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Quem precisa mais de quem?

  • Foto do escritor: Rangel G. Godinho
    Rangel G. Godinho
  • 19 de jun. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 28 de set. de 2024

A Vila São José Bento Cottolengo, localizada no município de Trindade (Goiás), é uma instituição que tem como carisma o cuidado para com os sujeitos com necessidades especiais, as quais são de ordem física e emocional. Logo que se chega a Vila, pode-se observar os diferentes sujeitos, os quais se distribuem em alas, que recebem o nome de santos e santas da igreja Católica, segundo suas deficiências, idade e sexo.  Lá se encontram diversos sujeitos, adultos, idosos e crianças inocentes sedentas de atenção. Pessoas que caminham vagarosamente pelos corredores e outras auxiliadas por outrem em suas cadeiras de rodas. Homem, mulher, indivíduos com suas particularidades tão pessoais, cada um com seus problemas subjacentes, com sua vivência, mágoas, dores e preconceitos sofridos ao longo da vida. Marcas profundas vindas querem seja da sociedade em geral, ou da própria rejeição familiar. Vozes doces, serenas, eufóricas ou mudas, vozes que querem falar, mas ficam às vezes reprimidas dentro do peito.


Ao circular pelas alas, observa-se que os corpos estão em constante libertação, que cada mão que se estende busca um cumprimento que transmita calor humano que chega logo ao coração e se revela num belo sorriso. O esticar de um braço, a emissão de um som, o balançar de uma cabeça, um xingamento feroz, entre outros são conquistas que nos remetem a histórias de vida e nos possibilita uma reflexão sobre nossa própria história. Caminhar pelos corredores e pátios é descobrir que a vida pulsa, que conversar não é entender o que as palavras dizem, mas o que os olhos revelam, que lagrimas tímidas brotam nos olhos quando podemos sentir que estar ali é fazer a diferença na vida de alguém, nem que seja só por instantes, e descobrir que na verdade é nossa vida que se transforma. Em algumas alas estudantes viram tios e tias, outras, sujeitos revelam tanto carinho com a visita que o sorriso brilha, e então um rapaz pergunta: “é de Goiânia?”; outro ao se enturmar, canta músicas sertanejas e narra gols, esses são sujeitos muito especiais, ensinam a alegria com simples gestos.


As pessoas que ali trabalham são também especiais, me arriscaria a considerá-las anjos, mas na verdade são muito humanas, conseguem fazer que cada dia o sol brilhe, seja ao pintar o cabelo, dar comida e banho, seja esticando um braço ali uma perna aqui, o mais importante é que os raios brilham forte e atingem todos os que vivem a experiência de ser um sujeito especial em meio a sujeitos especiais.


O olhar externo que vê, a experiência degustada até o fim, propicia aqueles que vão ao encontro dessa vivência fantástica, o sabor amargo de aprender a valorizar o(a) outro(a), respeitar suas particularidades e a necessidade desses sujeitos de amar e de sentir; bem como, aprender a conhecer nossos próprios desejos e estigmas, pois nesta experiência é difícil discernir quem precisa mais de quem.


Rangel Gomes Godinho


Fonte da imagem: Google Imagens.

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© 2020 por Rangel Gomes Godinho.

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