O Calculador
- Rangel G. Godinho
- 6 de jun. de 2020
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Havia um homem que passava os dias a calcular. Calculava o quanto iria gastar de dinheiro, de tempo e trabalho em seus dias. Sua calculadora era incansável, já estava acostumada aos ágeis dedos de seu dono, e se sentia feliz por dar sempre o resultado certo. Seu dono a admirava, já se passara alguns anos de soma, multiplicação, subtração e divisão, e a calculadora nunca falhará.
O Calculador passava a maior parte da vida calculando. Quando ia ao trabalho, calculava a menor distância, o menor tempo e o combustível que gastaria. Assim ele passou a não sair mais de casa, pois ao pensar em sair começava os cálculos. Em casa, ele calculava o quanto iria assistir de televisão, comer, dormir, não deixava que nada lhe escapasse o cálculo.
Sua companheira, a calculadora, estava sempre à disposição de seu dono, o qual nunca a deixava só. Porém suas baterias enfraqueceram e já não funcionava bem até se findar o que sobrara de carga.
O Calculador jamais pensara que sua fiel companheira iria lhe faltar, por isso não se preocupou com pilhas e muito menos com uma substituta. Pensou em ir comprar pilhas novas, mas como não podia calcular o valor e o tempo que iria gastar não se moveu. Sem a calculadora ele se sentia perdido, ficava então imóvel, pois só movia-se por meio de cálculos matemáticos.

Paralisado, tentou fazer contas de cabeça, e percebeu que somente por meio dos teclados de sua companheira poderia obter resultados confiáveis. O Calculador já não tinha saída estava destinado a imobilidade. Entretanto, alguém lhe bateu a porta. Sem poder calcular o tempo, os passos, os movimentos que gastaria para chegar até a porta permaneceu imóvel. Contudo, a porta se abriu, daí lembrou-se que a tinha esquecido destrancada, com isso uma figura dócil correu em sua direção e o abraçou, nesse momento multiplicou-se a alegria em seu coração, pois seu filho que a muito tempo não via, veio visitar-lhe com sua ex-esposa. O calor que a criança trouxe tirou-lhe o desejo pelos cálculos e o levou ao encontro de sua essência de pai, de ser humano.
O Calculador se rendeu a elasticidade e piruletagem, deixando de ser imóvel, jamais voltou a ter uma calculadora e decidiu que seu tempo seria medido apenas pela intensidade do abraço de seu filho, deste modo entregou-se a ETERNIDADE.
Rangel Gomes Godinho Texto escrito em 03 de julho de 2007.
Fonte da imagem: Google Imagens.
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